15 de fevereiro de 2016

Mais um aniversário



Meu aniversário foi há mais de um mês. E faz uns 3 meses que estou com umas abas abertas no meu navegador esperando que eu finalmente escrevesse este texto. Estava mesmo pensando nisso, acho que estou desanimada para escrever aqui porque acho que os blogs serão extintos! Parece que ninguém mais lê blogs, eles são um formato que foi substituído pelas redes sociais. Como se fosse muita gente falando e pouca gente escutando, uma comunicação que não se concretiza.

Mas a idéia (neste instante percebo que estou ficando velha, "ideia" não tem mais acento mas eu escrevo automaticamente com acento, como meu avô escrevia "ele" com acento circunflexo no primeiro "e" e eu achava que ele havia escrito errado... ok, vou ter que me adaptar!) para este post era reunir as poesias sobre aniversário que eu mais gosto (e finalmente poder fechar as abas! sim, eu ainda uso muito mais o notebook do que outros portáteis, sou das antigas haha)

Tudo começou com a apresentação de fim de ano na escola da minha filha. Eles cantaram "Tempos modernos" do Lulu Santos e recitaram o poema de Mario Quintana, chamada "O tempo":

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal... 
Quando se vê, já terminou o ano... 
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. 
Quando se vê passaram 50 anos! 
Agora é tarde demais para ser reprovado... 
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. 
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... 
Seguraria o amor que está à minha frente e diria que eu o amo... 
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. 
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. 
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.


A geração touch screen pode ficar facilmente durante horas entretida com um tablet ou celular, o que torna ainda mais curioso ver crianças de 8 anos falando com tanta consciência sobre o tempo. Me fez lembrar de um poema de Cassiano Ricardo, "O Relógio", que li também com mais ou menos essa mesma idade da época escolar e até hoje me marcou.

"Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos
Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos
Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser
Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer."


E também no fim do ano passado,  alguém que não me lembro quem compartilhou no facebook um especial da Folha para comemorar 80 anos da morte (???) de Fernando Pessoa, com um Quiz que identifica qual heterônimo do poeta é mais parecido com você. Meus atuais 34 anos me permitem um nível de autoconhecimento um pouco maior do que tinha na época que gostei da poesia de Cassiano Ricardo. (Ufa!) E assim pude ler com novos olhos (ou velha alma) alguns poemas de Álvaro Campos e é simplesmente genial como o poeta consegue captar a passagem do tempo em seus versos:

(trecho do poema "Aniversário", de Álvaro Campos)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, 
De ser inteligente para entre a família, 
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. 
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. 
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida. 

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, 
O que fui de coração e parentesco. 
O que fui de serões de meia-província, 
O que fui de amarem-me e eu ser menino, 
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... 
A que distância!... 
(Nem o acho... ) 
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!


(trecho do poema "Aproveitar o tempo", de Álvaro Campos)
Aproveitar o tempo! 
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro. 
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto. 
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste. 
Aproveitar o tempo! 
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos. 
Aproveitei-os ou não? 
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?! 


E o que para mim é o mais denso e o que eu mais gosto, um trecho da "Tabacaria"

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Por esses motivos, posso dizer que amo nosso idioma português. Que delícia de versos! E mesmo que ninguém leia, continuarei escrevendo! :)









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